Max Weber e a Análise Cultural da Valorização do Trabalho
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Sociologia
Max Weber e a Análise
Cultural
da Valorização do
Trabalho
Por:
Emanuel Isaque Cordeiro
da Silva
Técnico em Agropecuária
pelo IFPE Campus Belo Jardim
Formando em Magistério
pela Escola Municipal Manoel Teodoro de Arruda
A Reforma Protestante muda
radicalmente a visão sobre o trabalho
conduzindo-o a um pleno
reconhecimento. Será através da Reforma, que
o trabalho assumirá
verdadeiramente um status de importância e
contribuirá decisivamente
para uma outra subjetividade manifesta no
trabalho. Quem melhor traduziu
o impacto das reformas protestantes, na
valorização religiosa do
trabalho, foi Weber em “A ética protestante e o
espírito do
capitalismo”[1905].
A ascensão espetacular
do trabalho como um valor, sem
precedente na história da
humanidade, é explicada pelo sociólogo a
partir da Reforma, apesar do
tema do trabalho não ser central em sua
obra. A questão central é a
origem do racionalismo ocidental manifesta
no capitalismo, porém, a
concepção de trabalho através da religião,
oferece para Weber (1967) a
chave da compreensão do surgimento do
racionalismo ocidental.
Weber procura demonstrar
que, desde o início da Reforma assiste-
se ao nascimento de uma
concepção espiritual do trabalho, bem como
ao aparecimento de uma ética
profissional, as quais constituíram um
aspecto central do espírito
do capitalismo, que favoreceu seu
desenvolvimento no Ocidente
(MÜLLER, 2005: 241).
Até então, em toda a
sua história, o trabalho era considerado de
maneira ambivalente. O
trabalho era indispensável para a reprodução
biológica e social da
humanidade, mas era indesejável. Sobre ele pesava
uma condição de castigo e
anulação da individualidade das pessoas.
Essa visão ambivalente do
trabalho é encontrada na cultura judaico-
cristã que, apesar de estar
na origem de mudanças profundas no sentido
do trabalho, ainda não o
sublinha como possibilidade de manifestação de
um lugar social, uma vez que
valoriza o trabalho manual a medida que
serve a Deus (...) visto que
todos devem trabalhar em nome e para a
glória de Deus, eles são
iguais enquanto cristãos e pessoas religiosas.
(...) o trabalho se opõe ao
ócio, ao repouso, ao descanso, ao sabbat (com
Tomas de Aquino – o ficar
sem fazer nada será apreciado, como tempo
para vida contemplativa)
(MÜLLER, 2005: 242).
Apenas em Lutero, a
formula ora et labora sublinhará a
possibilidade de superação
da ambivalência do trabalho no mundo
religioso. Na teologia de
Lutero, a igualdade entre os dois modos de vida
não é antagônica. Lutero
teve uma influência decisiva na concepção do
significado do trabalho,
“quando traduziu para o alemão o Novo
Testamento (1522), empregando
a palavra beruf para trabalho, em lugar de arbeit Beruf, acentua mais
o aspecto da vocação do que o do trabalho
propriamente dito” (COSTA,
1990), ou seja, descaracterizando a
concepção pejorativa do
trabalho como expiação. Porém, será em
Calvino que o trabalho
assumirá um caráter ainda mais radical de
valorização, passando mesmo
a se tornar um dever. Para Calvino, “o
trabalho profissional deveria
formar uma muralha contra a preguiça,
todos devem trabalhar – quem
não trabalha não deve comer e o trabalho
é um dever” (MÜLLER, 2005:
243-244).
A descoberta de Weber, da
importância de Calvino, fez-se a partir
da observação de que, na
Alemanha, no começo do século XX, os
capitalistas protestantes
tinham sido melhor sucedidos em termos
econômicos do que os seus
correligionários católicos. Weber revela que
Calvino demonstra um interesse
maior do que Lutero pela vida
econômica e social. Na
concepção calvinista, “não somente a religião
concernia a toda a vida –
econômica, profissional, familiar –, mas tudo
devia concorrer para a glória
de Deus (...) e Calvino afirmará que ‘dentre
todas as coisas deste mundo, o
trabalhador é o mais semelhante a
Deus’” (WILLAIME, 2005:
70). Na visão de Calvino, o trabalho é um sinal
de graça. Ele abandona a
ideia do trabalho como fonte de pecado
original e mesmo como
contemplação. Pelo contrário, o trabalho pode
libertar o homem do sofrimento
e se tornar agradável a Deus, na medida
em que o homem deve, para
estar seguro de seu estado de graça,
‘trabalhar o dia todo em
favor do que lhe foi destinado. Não é, pois, o
ócio e o prazer, mas apenas a
atividade que serve para aumentar a
glória de Deus (...) É
condenável a contemplação passiva, quando
resultar em prejuízo para o
trabalho cotidiano, pois ela é menos
agradável a Deus do que a
materialização de Sua vontade de trabalho
(WEBER, 1967: 112).
Não trabalhar significa
não prestar homenagem a Deus. Somente
razões imperativas como a
doença podem impedir alguém de trabalhar,
mas optar por não trabalhar
ou não fazer de tudo para encontrar um
trabalho, é moralmente
condenável. O ócio, assim como a preguiça, não
são desejados por Deus e “o
mais importante é que o trabalho constitui,
antes de mais nada, a própria
finalidade da vida” (WEBER, 1967: 113).
Calvino considera ainda que o
mal não está no dinheiro em si, mas no
uso que se faz dele. Nessa
ótica, o rico tem uma missão econômica
providencial. Ele é “o
ministro dos pobres”, os quais lhe dão a
possibilidade de se liberar da
servidão do dinheiro, testando sua fé e sua
caridade. Segundo Weber, a
doutrina do Calvinismo contribui para o
desenvolvimento do capitalismo
e para a importância do trabalho na medida em que, na sua teologia
– a doutrina da predestinação –, Deus
decidiu desde o princípio
quem, entre os crentes, compartilharia a
salvação e quem seria
condenado e não restaria alternativa a não ser
travar uma luta diária para
fazer jus à possível escolha de ser um dos
eleitos de Deus.
Essa luta diária faz-se
através de um enorme ativismo, alimentado
por recomendações pastorais,
afirmava Weber. De um lado, por manter-
se como dever de cada um
considerar-se escolhido (...) A exortação é
aqui interpretada como um
dever de obter certeza da própria dedicação
e justificação na luta
diária pela vida (...). Por outro lado, a fim de
alcançar aquela
autoconfiança, uma intensa atividade profissional era
recomendada como o meio mais
adequado (WEBER, 1967:77).
A incerteza da salvação
pessoal deve ter gerado uma enorme
angústia nos fiéis. Não se
podia esperar ajuda alguma, nem de Deus,
nem da Igreja, nem da
comunidade religiosa, pois cada um encontrava-
se na mesma situação e, além
disso, os membros da comunidade eram
concorrentes aos raros lugares
salvadores no céu. Esse sistema fatalista,
de individualização e
incertezas, desencadeou “o trabalho encarniçado e
o domínio do mundo”
(MÜLLER, 2005: 246). A ideia subjacente é de que
o trabalho é um meio de
adquirir a independência e a confiança, e de
fazer parte de ser um dos
eleitos de Deus. O sucesso na vida terrestre,
adquirido através do
trabalho, não é certamente uma garantia de
salvação, mas um sinal
promissor. Esse modo de vida levou a uma
conduta ética racional, uma
espécie de ascetismo secular.
Essa ideia puritana do
trabalho profissional teve efeitos sobre a vida
econômica em geral e sobre o
modo de vida capitalista em particular. O
puritanismo considera, ao
contrário da leitura teológica anterior, a
riqueza como desejável e
apreciável. Então, o rico é abençoado e está no
caminho da salvação; ao
contrário, o pobre não tem reconhecimento
social, despojado de prestígio
em sua vida ociosa. A intuição de Weber é
de que a ética protestante
deu conteúdo a um espírito do capitalismo,
tendo no trabalho um dos
principais elementos: a avaliação religiosa do
infatigável, constante e
sistemático labor vocacional [trabalho
profissional], como o mais
alto instrumento de ascese, e, ao mesmo
tempo, como o mais seguro meio
de preservação de redenção da fé e do
homem, deve ter sido
presumivelmente a mais poderosa alavanca da
expressão dessa concepção
de vida, que aqui apontamos como espírito
do capitalismo (WEBER, 1967:
123).
A visão protestante, para
além de uma valorização religiosa do
trabalho, contribui para criar
um “espírito” motivacional para o
empreendedorismo. A
contribuição de Weber é mostrar que o capitalismo ensejado pela
Revolução Industrial tinha, em sua base, uma concepção
de trabalho vinculada ao
ascetismo secular do protestantismo. Foi essa
concepção de trabalho, que
liberou moral e eticamente os homens – os
capitalistas – à aquisição
de bens, à obtenção do lucro, à cobrança de
juros e à acumulação de
capital. Esse ethos – conjunto de valores
culturais – exortava que a
acumulação do capital deveria ser reinvestida
em novos empreendimentos que
gerassem mais empregos. Esse círculo
virtuoso – trabalhar,
acumular e reinvestir – permitia o estabelecimento
da harmonia social. Será esse
ethos que fomentará a atividade
capitalista. Observa-se
portanto que, da completa desvalorização, o
trabalho assume, ao longo da
sociedade religiosa, uma mudança de
sentido até se tornar
referência para uma vida virtuosa. Num primeiro
momento, na Idade Média, o
trabalho é interpretado como castigo –
subjaz a essa representação
do trabalho uma subjetividade da
insignificância da condição
humana. O trabalho não é fonte de afirmação
pessoal, coletiva ou mesmo
espiritual, não compraz e não é valorizado. É
visto como necessidade, uma
penitência a ser realizada que se coloca
em contiguidade à necessidade
de sobrevivência. Efêmera, a vida é feita
de trabalho penoso e árduo,
infeliz e desafortunado. Mesmo aquele que
não trabalha interpreta o
trabalho dessa forma e considera-se venturoso
porque possibilita a outrem a
purgação do pecado original de toda a
humanidade. A subjetividade
manifesta é análoga aos que vivem do
trabalho e aos que não vivem.
Aqui, diferentemente do paradigma grego,
o trabalho não é
menosprezado no sentido de condição vil e execrável,
como eram vistos os escravos,
mas como condicionalidade para a
Salvação de todos: aquele
que trabalha expia coletivamente a grave
ofensa cometida contra Deus. O
que está livre do trabalho penoso –
pode-se pensar no senhor
feudal – não olha os que vivem do trabalho
com desprezo, mas como
contingência causal a que todos foram
submetidos, e que ele, por
sorte e graça de Deus está livre, porém a sua
Salvação depende daqueles
que trabalham. A subjetividade manifesta
nessa condição de trabalho é
uma subjetividade resignada. Os que
trabalham carregam um sentido
de vida, mas é antes de tudo uma
predestinação, não há uma
alternativa.
Esse tipo de
interpretação, vinculada ao trabalho, transita para
uma outra subjetividade, dessa
vez mais afirmativa, que permite um
sentido mais dignificante para
a vida de quem trabalha. Esse processo é
lento, dura séculos, e não
se faz perceptível cronologicamente. A reviravolta acontece com a
passagem da interpretação do trabalho não
mais como condenação, mas
como possibilidade de exaltação à obra criadora de Deus. A mudança
é significativa: o trabalho se faz como
chance de alcançar a glória
de Deus. Diferentemente do trabalho-
castigo, o
trabalho-glorificação dá um outro sentido a quem dele
necessita. A fórmula ora et
labora, reza e trabalha, é portadora de uma
subjetividade afirmativa. A
efemeridade da vida passa a ser vista como
possibilidade de servir ao
Deus Criador. A relação com o transcendente
faz-se mais de parceria e
menos de medo: “Trabalho porque amo a Deus
e não porque o temo”. Essa
compreensão de trabalho dá um sentido
diferente à vida. Trata-se de
uma subjetividade que afirma uma
positividade do trabalho. No
trabalho encontra-se satisfação, não pA Reforma Protestante muda radicalmente a visão sobre o trabalho
conduzindo-o a um pleno reconhecimento. Será através da Reforma, que
o trabalho assumirá verdadeiramente um status de importância e
contribuirá decisivamente para uma outra subjetividade manifesta no
trabalho. Quem melhor traduziu o impacto das reformas protestantes, na
valorização religiosa do trabalho, foi Weber em “A ética protestante e o
espírito do capitalismo”[1905].
A ascensão espetacular do trabalho como um valor, sem
precedente na história da humanidade, é explicada pelo sociólogo a
partir da Reforma, apesar do tema do trabalho não ser central em sua
obra. A questão central é a origem do racionalismo ocidental manifesta
no capitalismo, porém, a concepção de trabalho através da religião,
oferece para Weber (1967) a chave da compreensão do surgimento do
racionalismo ocidental.
Weber procura demonstrar que, desde o início da Reforma assiste-
se ao nascimento de uma concepção espiritual do trabalho, bem como
ao aparecimento de uma ética profissional, as quais constituíram um
aspecto central do espírito do capitalismo, que favoreceu seu
desenvolvimento no Ocidente (MÜLLER, 2005: 241).
Até então, em toda a sua história, o trabalho era considerado de
maneira ambivalente. O trabalho era indispensável para a reprodução
biológica e social da humanidade, mas era indesejável. Sobre ele pesava
uma condição de castigo e anulação da individualidade das pessoas.
Essa visão ambivalente do trabalho é encontrada na cultura judaico-
cristã que, apesar de estar na origem de mudanças profundas no sentido
do trabalho, ainda não o sublinha como possibilidade de manifestação de
um lugar social, uma vez que valoriza o trabalho manual a medida que
serve a Deus (...) visto que todos devem trabalhar em nome e para a
glória de Deus, eles são iguais enquanto cristãos e pessoas religiosas.
(...) o trabalho se opõe ao ócio, ao repouso, ao descanso, ao sabbat (com
Tomas de Aquino – o ficar sem fazer nada será apreciado, como tempo
para vida contemplativa) (MÜLLER, 2005: 242).
Apenas em Lutero, a formula ora et labora sublinhará a
possibilidade de superação da ambivalência do trabalho no mundo
religioso. Na teologia de Lutero, a igualdade entre os dois modos de vida
não é antagônica. Lutero teve uma influência decisiva na concepção do
significado do trabalho, “quando traduziu para o alemão o Novo
Testamento (1522), empregando a palavra beruf para trabalho, em lugar de arbeit Beruf, acentua mais o aspecto da vocação do que o do trabalho
propriamente dito” (COSTA, 1990), ou seja, descaracterizando a
concepção pejorativa do trabalho como expiação. Porém, será em
Calvino que o trabalho assumirá um caráter ainda mais radical de
valorização, passando mesmo a se tornar um dever. Para Calvino, “o
trabalho profissional deveria formar uma muralha contra a preguiça,
todos devem trabalhar – quem não trabalha não deve comer e o trabalho
é um dever” (MÜLLER, 2005: 243-244).
A descoberta de Weber, da importância de Calvino, fez-se a partir
da observação de que, na Alemanha, no começo do século XX, os
capitalistas protestantes tinham sido melhor sucedidos em termos
econômicos do que os seus correligionários católicos. Weber revela que
Calvino demonstra um interesse maior do que Lutero pela vida
econômica e social. Na concepção calvinista, “não somente a religião
concernia a toda a vida – econômica, profissional, familiar –, mas tudo
devia concorrer para a glória de Deus (...) e Calvino afirmará que ‘dentre
todas as coisas deste mundo, o trabalhador é o mais semelhante a
Deus’” (WILLAIME, 2005: 70). Na visão de Calvino, o trabalho é um sinal
de graça. Ele abandona a ideia do trabalho como fonte de pecado
original e mesmo como contemplação. Pelo contrário, o trabalho pode
libertar o homem do sofrimento e se tornar agradável a Deus, na medida
em que o homem deve, para estar seguro de seu estado de graça,
‘trabalhar o dia todo em favor do que lhe foi destinado. Não é, pois, o
ócio e o prazer, mas apenas a atividade que serve para aumentar a
glória de Deus (...) É condenável a contemplação passiva, quando
resultar em prejuízo para o trabalho cotidiano, pois ela é menos
agradável a Deus do que a materialização de Sua vontade de trabalho
(WEBER, 1967: 112).
Não trabalhar significa não prestar homenagem a Deus. Somente
razões imperativas como a doença podem impedir alguém de trabalhar,
mas optar por não trabalhar ou não fazer de tudo para encontrar um
trabalho, é moralmente condenável. O ócio, assim como a preguiça, não
são desejados por Deus e “o mais importante é que o trabalho constitui,
antes de mais nada, a própria finalidade da vida” (WEBER, 1967: 113).
Calvino considera ainda que o mal não está no dinheiro em si, mas no
uso que se faz dele. Nessa ótica, o rico tem uma missão econômica
providencial. Ele é “o ministro dos pobres”, os quais lhe dão a
possibilidade de se liberar da servidão do dinheiro, testando sua fé e sua
caridade. Segundo Weber, a doutrina do Calvinismo contribui para o
desenvolvimento do capitalismo e para a importância do trabalho na medida em que, na sua teologia – a doutrina da predestinação –, Deus
decidiu desde o princípio quem, entre os crentes, compartilharia a
salvação e quem seria condenado e não restaria alternativa a não ser
travar uma luta diária para fazer jus à possível escolha de ser um dos
eleitos de Deus.
Essa luta diária faz-se através de um enorme ativismo, alimentado
por recomendações pastorais, afirmava Weber. De um lado, por manter-
se como dever de cada um considerar-se escolhido (...) A exortação é
aqui interpretada como um dever de obter certeza da própria dedicação
e justificação na luta diária pela vida (...). Por outro lado, a fim de
alcançar aquela autoconfiança, uma intensa atividade profissional era
recomendada como o meio mais adequado (WEBER, 1967:77).
A incerteza da salvação pessoal deve ter gerado uma enorme
angústia nos fiéis. Não se podia esperar ajuda alguma, nem de Deus,
nem da Igreja, nem da comunidade religiosa, pois cada um encontrava-
se na mesma situação e, além disso, os membros da comunidade eram
concorrentes aos raros lugares salvadores no céu. Esse sistema fatalista,
de individualização e incertezas, desencadeou “o trabalho encarniçado e
o domínio do mundo” (MÜLLER, 2005: 246). A ideia subjacente é de que
o trabalho é um meio de adquirir a independência e a confiança, e de
fazer parte de ser um dos eleitos de Deus. O sucesso na vida terrestre,
adquirido através do trabalho, não é certamente uma garantia de
salvação, mas um sinal promissor. Esse modo de vida levou a uma
conduta ética racional, uma espécie de ascetismo secular.
Essa ideia puritana do trabalho profissional teve efeitos sobre a vida
econômica em geral e sobre o modo de vida capitalista em particular. O
puritanismo considera, ao contrário da leitura teológica anterior, a
riqueza como desejável e apreciável. Então, o rico é abençoado e está no
caminho da salvação; ao contrário, o pobre não tem reconhecimento
social, despojado de prestígio em sua vida ociosa. A intuição de Weber é
de que a ética protestante deu conteúdo a um espírito do capitalismo,
tendo no trabalho um dos principais elementos: a avaliação religiosa do
infatigável, constante e sistemático labor vocacional [trabalho
profissional], como o mais alto instrumento de ascese, e, ao mesmo
tempo, como o mais seguro meio de preservação de redenção da fé e do
homem, deve ter sido presumivelmente a mais poderosa alavanca da
expressão dessa concepção de vida, que aqui apontamos como espírito
do capitalismo (WEBER, 1967: 123).
A visão protestante, para além de uma valorização religiosa do
trabalho, contribui para criar um “espírito” motivacional para o
empreendedorismo. A contribuição de Weber é mostrar que o capitalismo ensejado pela Revolução Industrial tinha, em sua base, uma concepção
de trabalho vinculada ao ascetismo secular do protestantismo. Foi essa
concepção de trabalho, que liberou moral e eticamente os homens – os
capitalistas – à aquisição de bens, à obtenção do lucro, à cobrança de
juros e à acumulação de capital. Esse ethos – conjunto de valores
culturais – exortava que a acumulação do capital deveria ser reinvestida
em novos empreendimentos que gerassem mais empregos. Esse círculo
virtuoso – trabalhar, acumular e reinvestir – permitia o estabelecimento
da harmonia social. Será esse ethos que fomentará a atividade
capitalista. Observa-se portanto que, da completa desvalorização, o
trabalho assume, ao longo da sociedade religiosa, uma mudança de
sentido até se tornar referência para uma vida virtuosa. Num primeiro
momento, na Idade Média, o trabalho é interpretado como castigo –
subjaz a essa representação do trabalho uma subjetividade da
insignificância da condição humana. O trabalho não é fonte de afirmação
pessoal, coletiva ou mesmo espiritual, não compraz e não é valorizado. É
visto como necessidade, uma penitência a ser realizada que se coloca
em contiguidade à necessidade de sobrevivência. Efêmera, a vida é feita
de trabalho penoso e árduo, infeliz e desafortunado. Mesmo aquele que
não trabalha interpreta o trabalho dessa forma e considera-se venturoso
porque possibilita a outrem a purgação do pecado original de toda a
humanidade. A subjetividade manifesta é análoga aos que vivem do
trabalho e aos que não vivem. Aqui, diferentemente do paradigma grego,
o trabalho não é menosprezado no sentido de condição vil e execrável,
como eram vistos os escravos, mas como condicionalidade para a
Salvação de todos: aquele que trabalha expia coletivamente a grave
ofensa cometida contra Deus. O que está livre do trabalho penoso –
pode-se pensar no senhor feudal – não olha os que vivem do trabalho
com desprezo, mas como contingência causal a que todos foram
submetidos, e que ele, por sorte e graça de Deus está livre, porém a sua
Salvação depende daqueles que trabalham. A subjetividade manifesta
nessa condição de trabalho é uma subjetividade resignada. Os que
trabalham carregam um sentido de vida, mas é antes de tudo uma
predestinação, não há uma alternativa.
Esse tipo de interpretação, vinculada ao trabalho, transita para
uma outra subjetividade, dessa vez mais afirmativa, que permite um
sentido mais dignificante para a vida de quem trabalha. Esse processo é
lento, dura séculos, e não se faz perceptível cronologicamente. A reviravolta acontece com a passagem da interpretação do trabalho não
mais como condenação, mas como possibilidade de exaltação à oborque
conduzindo-o a um pleno reconhecimento. Será através da Reforma, que
o trabalho assumirá verdadeiramente um status de importância e
contribuirá decisivamente para uma outra subjetividade manifesta no
trabalho. Quem melhor traduziu o impacto das reformas protestantes, na
valorização religiosa do trabalho, foi Weber em “A ética protestante e o
espírito do capitalismo”[1905].
A ascensão espetacular do trabalho como um valor, sem
precedente na história da humanidade, é explicada pelo sociólogo a
partir da Reforma, apesar do tema do trabalho não ser central em sua
obra. A questão central é a origem do racionalismo ocidental manifesta
no capitalismo, porém, a concepção de trabalho através da religião,
oferece para Weber (1967) a chave da compreensão do surgimento do
racionalismo ocidental.
Weber procura demonstrar que, desde o início da Reforma assiste-
se ao nascimento de uma concepção espiritual do trabalho, bem como
ao aparecimento de uma ética profissional, as quais constituíram um
aspecto central do espírito do capitalismo, que favoreceu seu
desenvolvimento no Ocidente (MÜLLER, 2005: 241).
Até então, em toda a sua história, o trabalho era considerado de
maneira ambivalente. O trabalho era indispensável para a reprodução
biológica e social da humanidade, mas era indesejável. Sobre ele pesava
uma condição de castigo e anulação da individualidade das pessoas.
Essa visão ambivalente do trabalho é encontrada na cultura judaico-
cristã que, apesar de estar na origem de mudanças profundas no sentido
do trabalho, ainda não o sublinha como possibilidade de manifestação de
um lugar social, uma vez que valoriza o trabalho manual a medida que
serve a Deus (...) visto que todos devem trabalhar em nome e para a
glória de Deus, eles são iguais enquanto cristãos e pessoas religiosas.
(...) o trabalho se opõe ao ócio, ao repouso, ao descanso, ao sabbat (com
Tomas de Aquino – o ficar sem fazer nada será apreciado, como tempo
para vida contemplativa) (MÜLLER, 2005: 242).
Apenas em Lutero, a formula ora et labora sublinhará a
possibilidade de superação da ambivalência do trabalho no mundo
religioso. Na teologia de Lutero, a igualdade entre os dois modos de vida
não é antagônica. Lutero teve uma influência decisiva na concepção do
significado do trabalho, “quando traduziu para o alemão o Novo
Testamento (1522), empregando a palavra beruf para trabalho, em lugar de arbeit Beruf, acentua mais o aspecto da vocação do que o do trabalho
propriamente dito” (COSTA, 1990), ou seja, descaracterizando a
concepção pejorativa do trabalho como expiação. Porém, será em
Calvino que o trabalho assumirá um caráter ainda mais radical de
valorização, passando mesmo a se tornar um dever. Para Calvino, “o
trabalho profissional deveria formar uma muralha contra a preguiça,
todos devem trabalhar – quem não trabalha não deve comer e o trabalho
é um dever” (MÜLLER, 2005: 243-244).
A descoberta de Weber, da importância de Calvino, fez-se a partir
da observação de que, na Alemanha, no começo do século XX, os
capitalistas protestantes tinham sido melhor sucedidos em termos
econômicos do que os seus correligionários católicos. Weber revela que
Calvino demonstra um interesse maior do que Lutero pela vida
econômica e social. Na concepção calvinista, “não somente a religião
concernia a toda a vida – econômica, profissional, familiar –, mas tudo
devia concorrer para a glória de Deus (...) e Calvino afirmará que ‘dentre
todas as coisas deste mundo, o trabalhador é o mais semelhante a
Deus’” (WILLAIME, 2005: 70). Na visão de Calvino, o trabalho é um sinal
de graça. Ele abandona a ideia do trabalho como fonte de pecado
original e mesmo como contemplação. Pelo contrário, o trabalho pode
libertar o homem do sofrimento e se tornar agradável a Deus, na medida
em que o homem deve, para estar seguro de seu estado de graça,
‘trabalhar o dia todo em favor do que lhe foi destinado. Não é, pois, o
ócio e o prazer, mas apenas a atividade que serve para aumentar a
glória de Deus (...) É condenável a contemplação passiva, quando
resultar em prejuízo para o trabalho cotidiano, pois ela é menos
agradável a Deus do que a materialização de Sua vontade de trabalho
(WEBER, 1967: 112).
Não trabalhar significa não prestar homenagem a Deus. Somente
razões imperativas como a doença podem impedir alguém de trabalhar,
mas optar por não trabalhar ou não fazer de tudo para encontrar um
trabalho, é moralmente condenável. O ócio, assim como a preguiça, não
são desejados por Deus e “o mais importante é que o trabalho constitui,
antes de mais nada, a própria finalidade da vida” (WEBER, 1967: 113).
Calvino considera ainda que o mal não está no dinheiro em si, mas no
uso que se faz dele. Nessa ótica, o rico tem uma missão econômica
providencial. Ele é “o ministro dos pobres”, os quais lhe dão a
possibilidade de se liberar da servidão do dinheiro, testando sua fé e sua
caridade. Segundo Weber, a doutrina do Calvinismo contribui para o
desenvolvimento do capitalismo e para a importância do trabalho na medida em que, na sua teologia – a doutrina da predestinação –, Deus
decidiu desde o princípio quem, entre os crentes, compartilharia a
salvação e quem seria condenado e não restaria alternativa a não ser
travar uma luta diária para fazer jus à possível escolha de ser um dos
eleitos de Deus.
Essa luta diária faz-se através de um enorme ativismo, alimentado
por recomendações pastorais, afirmava Weber. De um lado, por manter-
se como dever de cada um considerar-se escolhido (...) A exortação é
aqui interpretada como um dever de obter certeza da própria dedicação
e justificação na luta diária pela vida (...). Por outro lado, a fim de
alcançar aquela autoconfiança, uma intensa atividade profissional era
recomendada como o meio mais adequado (WEBER, 1967:77).
A incerteza da salvação pessoal deve ter gerado uma enorme
angústia nos fiéis. Não se podia esperar ajuda alguma, nem de Deus,
nem da Igreja, nem da comunidade religiosa, pois cada um encontrava-
se na mesma situação e, além disso, os membros da comunidade eram
concorrentes aos raros lugares salvadores no céu. Esse sistema fatalista,
de individualização e incertezas, desencadeou “o trabalho encarniçado e
o domínio do mundo” (MÜLLER, 2005: 246). A ideia subjacente é de que
o trabalho é um meio de adquirir a independência e a confiança, e de
fazer parte de ser um dos eleitos de Deus. O sucesso na vida terrestre,
adquirido através do trabalho, não é certamente uma garantia de
salvação, mas um sinal promissor. Esse modo de vida levou a uma
conduta ética racional, uma espécie de ascetismo secular.
Essa ideia puritana do trabalho profissional teve efeitos sobre a vida
econômica em geral e sobre o modo de vida capitalista em particular. O
puritanismo considera, ao contrário da leitura teológica anterior, a
riqueza como desejável e apreciável. Então, o rico é abençoado e está no
caminho da salvação; ao contrário, o pobre não tem reconhecimento
social, despojado de prestígio em sua vida ociosa. A intuição de Weber é
de que a ética protestante deu conteúdo a um espírito do capitalismo,
tendo no trabalho um dos principais elementos: a avaliação religiosa do
infatigável, constante e sistemático labor vocacional [trabalho
profissional], como o mais alto instrumento de ascese, e, ao mesmo
tempo, como o mais seguro meio de preservação de redenção da fé e do
homem, deve ter sido presumivelmente a mais poderosa alavanca da
expressão dessa concepção de vida, que aqui apontamos como espírito
do capitalismo (WEBER, 1967: 123).
A visão protestante, para além de uma valorização religiosa do
trabalho, contribui para criar um “espírito” motivacional para o
empreendedorismo. A contribuição de Weber é mostrar que o capitalismo ensejado pela Revolução Industrial tinha, em sua base, uma concepção
de trabalho vinculada ao ascetismo secular do protestantismo. Foi essa
concepção de trabalho, que liberou moral e eticamente os homens – os
capitalistas – à aquisição de bens, à obtenção do lucro, à cobrança de
juros e à acumulação de capital. Esse ethos – conjunto de valores
culturais – exortava que a acumulação do capital deveria ser reinvestida
em novos empreendimentos que gerassem mais empregos. Esse círculo
virtuoso – trabalhar, acumular e reinvestir – permitia o estabelecimento
da harmonia social. Será esse ethos que fomentará a atividade
capitalista. Observa-se portanto que, da completa desvalorização, o
trabalho assume, ao longo da sociedade religiosa, uma mudança de
sentido até se tornar referência para uma vida virtuosa. Num primeiro
momento, na Idade Média, o trabalho é interpretado como castigo –
subjaz a essa representação do trabalho uma subjetividade da
insignificância da condição humana. O trabalho não é fonte de afirmação
pessoal, coletiva ou mesmo espiritual, não compraz e não é valorizado. É
visto como necessidade, uma penitência a ser realizada que se coloca
em contiguidade à necessidade de sobrevivência. Efêmera, a vida é feita
de trabalho penoso e árduo, infeliz e desafortunado. Mesmo aquele que
não trabalha interpreta o trabalho dessa forma e considera-se venturoso
porque possibilita a outrem a purgação do pecado original de toda a
humanidade. A subjetividade manifesta é análoga aos que vivem do
trabalho e aos que não vivem. Aqui, diferentemente do paradigma grego,
o trabalho não é menosprezado no sentido de condição vil e execrável,
como eram vistos os escravos, mas como condicionalidade para a
Salvação de todos: aquele que trabalha expia coletivamente a grave
ofensa cometida contra Deus. O que está livre do trabalho penoso –
pode-se pensar no senhor feudal – não olha os que vivem do trabalho
com desprezo, mas como contingência causal a que todos foram
submetidos, e que ele, por sorte e graça de Deus está livre, porém a sua
Salvação depende daqueles que trabalham. A subjetividade manifesta
nessa condição de trabalho é uma subjetividade resignada. Os que
trabalham carregam um sentido de vida, mas é antes de tudo uma
predestinação, não há uma alternativa.
Esse tipo de interpretação, vinculada ao trabalho, transita para
uma outra subjetividade, dessa vez mais afirmativa, que permite um
sentido mais dignificante para a vida de quem trabalha. Esse processo é
lento, dura séculos, e não se faz perceptível cronologicamente. A reviravolta acontece com a passagem da interpretação do trabalho não
mais como condenação, mas como possibilidade de exaltação à oborque
ele seja aprazível de ser
realizado, mas porque confere significado à
insignificância terrestre. É
pelo e através do trabalho custoso, acerbo,
sofrido, que se passa a
justificar a existência.
Uma nova configuração dos
aspectos subjetivos do trabalho ainda pode
ser considerada na sociedade
religiosa. Trata-se daquela advinda do
significado do trabalho a
partir dos preceitos impregnados na Reforma.
Daquele momento em diante,
definitivamente o trabalho afirma-se como
um valor desejável,
necessário e sinal de reconhecimento. A afirmação
da pessoa humana passa pelo
trabalho. A vida virtuosa completa-se no
trabalho e é condenável a
vida ociosa. Todos devem trabalhar, inclusive
aqueles que dele
necessariamente não precisem. O trabalho passa a ser
uma exigência social, e como
tal, assume uma configuração de distinção
junto aos outros. O trabalho,
contrariamente ao que se afirmava anA Reforma Protestante muda radicalmente a visão sobre o trabalho
conduzindo-o a um pleno reconhecimento. Será através da Reforma, que
o trabalho assumirá verdadeiramente um status de importância e
contribuirá decisivamente para uma outra subjetividade manifesta no
trabalho. Quem melhor traduziu o impacto das reformas protestantes, na
valorização religiosa do trabalho, foi Weber em “A ética protestante e o
espírito do capitalismo”[1905].
A ascensão espetacular do trabalho como um valor, sem
precedente na história da humanidade, é explicada pelo sociólogo a
partir da Reforma, apesar do tema do trabalho não ser central em sua
obra. A questão central é a origem do racionalismo ocidental manifesta
no capitalismo, porém, a concepção de trabalho através da religião,
oferece para Weber (1967) a chave da compreensão do surgimento do
racionalismo ocidental.
Weber procura demonstrar que, desde o início da Reforma assiste-
se ao nascimento de uma concepção espiritual do trabalho, bem como
ao aparecimento de uma ética profissional, as quais constituíram um
aspecto central do espírito do capitalismo, que favoreceu seu
desenvolvimento no Ocidente (MÜLLER, 2005: 241).
Até então, em toda a sua história, o trabalho era considerado de
maneira ambivalente. O trabalho era indispensável para a reprodução
biológica e social da humanidade, mas era indesejável. Sobre ele pesava
uma condição de castigo e anulação da individualidade das pessoas.
Essa visão ambivalente do trabalho é encontrada na cultura judaico-
cristã que, apesar de estar na origem de mudanças profundas no sentido
do trabalho, ainda não o sublinha como possibilidade de manifestação de
um lugar social, uma vez que valoriza o trabalho manual a medida que
serve a Deus (...) visto que todos devem trabalhar em nome e para a
glória de Deus, eles são iguais enquanto cristãos e pessoas religiosas.
(...) o trabalho se opõe ao ócio, ao repouso, ao descanso, ao sabbat (com
Tomas de Aquino – o ficar sem fazer nada será apreciado, como tempo
para vida contemplativa) (MÜLLER, 2005: 242).
Apenas em Lutero, a formula ora et labora sublinhará a
possibilidade de superação da ambivalência do trabalho no mundo
religioso. Na teologia de Lutero, a igualdade entre os dois modos de vida
não é antagônica. Lutero teve uma influência decisiva na concepção do
significado do trabalho, “quando traduziu para o alemão o Novo
Testamento (1522), empregando a palavra beruf para trabalho, em lugar de arbeit Beruf, acentua mais o aspecto da vocação do que o do trabalho
propriamente dito” (COSTA, 1990), ou seja, descaracterizando a
concepção pejorativa do trabalho como expiação. Porém, será em
Calvino que o trabalho assumirá um caráter ainda mais radical de
valorização, passando mesmo a se tornar um dever. Para Calvino, “o
trabalho profissional deveria formar uma muralha contra a preguiça,
todos devem trabalhar – quem não trabalha não deve comer e o trabalho
é um dever” (MÜLLER, 2005: 243-244).
A descoberta de Weber, da importância de Calvino, fez-se a partir
da observação de que, na Alemanha, no começo do século XX, os
capitalistas protestantes tinham sido melhor sucedidos em termos
econômicos do que os seus correligionários católicos. Weber revela que
Calvino demonstra um interesse maior do que Lutero pela vida
econômica e social. Na concepção calvinista, “não somente a religião
concernia a toda a vida – econômica, profissional, familiar –, mas tudo
devia concorrer para a glória de Deus (...) e Calvino afirmará que ‘dentre
todas as coisas deste mundo, o trabalhador é o mais semelhante a
Deus’” (WILLAIME, 2005: 70). Na visão de Calvino, o trabalho é um sinal
de graça. Ele abandona a ideia do trabalho como fonte de pecado
original e mesmo como contemplação. Pelo contrário, o trabalho pode
libertar o homem do sofrimento e se tornar agradável a Deus, na medida
em que o homem deve, para estar seguro de seu estado de graça,
‘trabalhar o dia todo em favor do que lhe foi destinado. Não é, pois, o
ócio e o prazer, mas apenas a atividade que serve para aumentar a
glória de Deus (...) É condenável a contemplação passiva, quando
resultar em prejuízo para o trabalho cotidiano, pois ela é menos
agradável a Deus do que a materialização de Sua vontade de trabalho
(WEBER, 1967: 112).
Não trabalhar significa não prestar homenagem a Deus. Somente
razões imperativas como a doença podem impedir alguém de trabalhar,
mas optar por não trabalhar ou não fazer de tudo para encontrar um
trabalho, é moralmente condenável. O ócio, assim como a preguiça, não
são desejados por Deus e “o mais importante é que o trabalho constitui,
antes de mais nada, a própria finalidade da vida” (WEBER, 1967: 113).
Calvino considera ainda que o mal não está no dinheiro em si, mas no
uso que se faz dele. Nessa ótica, o rico tem uma missão econômica
providencial. Ele é “o ministro dos pobres”, os quais lhe dão a
possibilidade de se liberar da servidão do dinheiro, testando sua fé e sua
caridade. Segundo Weber, a doutrina do Calvinismo contribui para o
desenvolvimento do capitalismo e para a importância do trabalho na medida em que, na sua teologia – a doutrina da predestinação –, Deus
decidiu desde o princípio quem, entre os crentes, compartilharia a
salvação e quem seria condenado e não restaria alternativa a não ser
travar uma luta diária para fazer jus à possível escolha de ser um dos
eleitos de Deus.
Essa luta diária faz-se através de um enorme ativismo, alimentado
por recomendações pastorais, afirmava Weber. De um lado, por manter-
se como dever de cada um considerar-se escolhido (...) A exortação é
aqui interpretada como um dever de obter certeza da própria dedicação
e justificação na luta diária pela vida (...). Por outro lado, a fim de
alcançar aquela autoconfiança, uma intensa atividade profissional era
recomendada como o meio mais adequado (WEBER, 1967:77).
A incerteza da salvação pessoal deve ter gerado uma enorme
angústia nos fiéis. Não se podia esperar ajuda alguma, nem de Deus,
nem da Igreja, nem da comunidade religiosa, pois cada um encontrava-
se na mesma situação e, além disso, os membros da comunidade eram
concorrentes aos raros lugares salvadores no céu. Esse sistema fatalista,
de individualização e incertezas, desencadeou “o trabalho encarniçado e
o domínio do mundo” (MÜLLER, 2005: 246). A ideia subjacente é de que
o trabalho é um meio de adquirir a independência e a confiança, e de
fazer parte de ser um dos eleitos de Deus. O sucesso na vida terrestre,
adquirido através do trabalho, não é certamente uma garantia de
salvação, mas um sinal promissor. Esse modo de vida levou a uma
conduta ética racional, uma espécie de ascetismo secular.
Essa ideia puritana do trabalho profissional teve efeitos sobre a vida
econômica em geral e sobre o modo de vida capitalista em particular. O
puritanismo considera, ao contrário da leitura teológica anterior, a
riqueza como desejável e apreciável. Então, o rico é abençoado e está no
caminho da salvação; ao contrário, o pobre não tem reconhecimento
social, despojado de prestígio em sua vida ociosa. A intuição de Weber é
de que a ética protestante deu conteúdo a um espírito do capitalismo,
tendo no trabalho um dos principais elementos: a avaliação religiosa do
infatigável, constante e sistemático labor vocacional [trabalho
profissional], como o mais alto instrumento de ascese, e, ao mesmo
tempo, como o mais seguro meio de preservação de redenção da fé e do
homem, deve ter sido presumivelmente a mais poderosa alavanca da
expressão dessa concepção de vida, que aqui apontamos como espírito
do capitalismo (WEBER, 1967: 123).
A visão protestante, para além de uma valorização religiosa do
trabalho, contribui para criar um “espírito” motivacional para o
empreendedorismo. A contribuição de Weber é mostrar que o capitalismo ensejado pela Revolução Industrial tinha, em sua base, uma concepção
de trabalho vinculada ao ascetismo secular do protestantismo. Foi essa
concepção de trabalho, que liberou moral e eticamente os homens – os
capitalistas – à aquisição de bens, à obtenção do lucro, à cobrança de
juros e à acumulação de capital. Esse ethos – conjunto de valores
culturais – exortava que a acumulação do capital deveria ser reinvestida
em novos empreendimentos que gerassem mais empregos. Esse círculo
virtuoso – trabalhar, acumular e reinvestir – permitia o estabelecimento
da harmonia social. Será esse ethos que fomentará a atividade
capitalista. Observa-se portanto que, da completa desvalorização, o
trabalho assume, ao longo da sociedade religiosa, uma mudança de
sentido até se tornar referência para uma vida virtuosa. Num primeiro
momento, na Idade Média, o trabalho é interpretado como castigo –
subjaz a essa representação do trabalho uma subjetividade da
insignificância da condição humana. O trabalho não é fonte de afirmação
pessoal, coletiva ou mesmo espiritual, não compraz e não é valorizado. É
visto como necessidade, uma penitência a ser realizada que se coloca
em contiguidade à necessidade de sobrevivência. Efêmera, a vida é feita
de trabalho penoso e árduo, infeliz e desafortunado. Mesmo aquele que
não trabalha interpreta o trabalho dessa forma e considera-se venturoso
porque possibilita a outrem a purgação do pecado original de toda a
humanidade. A subjetividade manifesta é análoga aos que vivem do
trabalho e aos que não vivem. Aqui, diferentemente do paradigma grego,
o trabalho não é menosprezado no sentido de condição vil e execrável,
como eram vistos os escravos, mas como condicionalidade para a
Salvação de todos: aquele que trabalha expia coletivamente a grave
ofensa cometida contra Deus. O que está livre do trabalho penoso –
pode-se pensar no senhor feudal – não olha os que vivem do trabalho
com desprezo, mas como contingência causal a que todos foram
submetidos, e que ele, por sorte e graça de Deus está livre, porém a sua
Salvação depende daqueles que trabalham. A subjetividade manifesta
nessa condição de trabalho é uma subjetividade resignada. Os que
trabalham carregam um sentido de vida, mas é antes de tudo uma
predestinação, não há uma alternativa.
Esse tipo de interpretação, vinculada ao trabalho, transita para
uma outra subjetividade, dessa vez mais afirmativa, que permite um
sentido mais dignificante para a vida de quem trabalha. Esse processo é
lento, dura séculos, e não se faz perceptível cronologicamente. A reviravolta acontece com a passagem da interpretação do trabalho não
mais como condenação, mas como possibilidade de exaltação à obtes,
conduzindo-o a um pleno reconhecimento. Será através da Reforma, que
o trabalho assumirá verdadeiramente um status de importância e
contribuirá decisivamente para uma outra subjetividade manifesta no
trabalho. Quem melhor traduziu o impacto das reformas protestantes, na
valorização religiosa do trabalho, foi Weber em “A ética protestante e o
espírito do capitalismo”[1905].
A ascensão espetacular do trabalho como um valor, sem
precedente na história da humanidade, é explicada pelo sociólogo a
partir da Reforma, apesar do tema do trabalho não ser central em sua
obra. A questão central é a origem do racionalismo ocidental manifesta
no capitalismo, porém, a concepção de trabalho através da religião,
oferece para Weber (1967) a chave da compreensão do surgimento do
racionalismo ocidental.
Weber procura demonstrar que, desde o início da Reforma assiste-
se ao nascimento de uma concepção espiritual do trabalho, bem como
ao aparecimento de uma ética profissional, as quais constituíram um
aspecto central do espírito do capitalismo, que favoreceu seu
desenvolvimento no Ocidente (MÜLLER, 2005: 241).
Até então, em toda a sua história, o trabalho era considerado de
maneira ambivalente. O trabalho era indispensável para a reprodução
biológica e social da humanidade, mas era indesejável. Sobre ele pesava
uma condição de castigo e anulação da individualidade das pessoas.
Essa visão ambivalente do trabalho é encontrada na cultura judaico-
cristã que, apesar de estar na origem de mudanças profundas no sentido
do trabalho, ainda não o sublinha como possibilidade de manifestação de
um lugar social, uma vez que valoriza o trabalho manual a medida que
serve a Deus (...) visto que todos devem trabalhar em nome e para a
glória de Deus, eles são iguais enquanto cristãos e pessoas religiosas.
(...) o trabalho se opõe ao ócio, ao repouso, ao descanso, ao sabbat (com
Tomas de Aquino – o ficar sem fazer nada será apreciado, como tempo
para vida contemplativa) (MÜLLER, 2005: 242).
Apenas em Lutero, a formula ora et labora sublinhará a
possibilidade de superação da ambivalência do trabalho no mundo
religioso. Na teologia de Lutero, a igualdade entre os dois modos de vida
não é antagônica. Lutero teve uma influência decisiva na concepção do
significado do trabalho, “quando traduziu para o alemão o Novo
Testamento (1522), empregando a palavra beruf para trabalho, em lugar de arbeit Beruf, acentua mais o aspecto da vocação do que o do trabalho
propriamente dito” (COSTA, 1990), ou seja, descaracterizando a
concepção pejorativa do trabalho como expiação. Porém, será em
Calvino que o trabalho assumirá um caráter ainda mais radical de
valorização, passando mesmo a se tornar um dever. Para Calvino, “o
trabalho profissional deveria formar uma muralha contra a preguiça,
todos devem trabalhar – quem não trabalha não deve comer e o trabalho
é um dever” (MÜLLER, 2005: 243-244).
A descoberta de Weber, da importância de Calvino, fez-se a partir
da observação de que, na Alemanha, no começo do século XX, os
capitalistas protestantes tinham sido melhor sucedidos em termos
econômicos do que os seus correligionários católicos. Weber revela que
Calvino demonstra um interesse maior do que Lutero pela vida
econômica e social. Na concepção calvinista, “não somente a religião
concernia a toda a vida – econômica, profissional, familiar –, mas tudo
devia concorrer para a glória de Deus (...) e Calvino afirmará que ‘dentre
todas as coisas deste mundo, o trabalhador é o mais semelhante a
Deus’” (WILLAIME, 2005: 70). Na visão de Calvino, o trabalho é um sinal
de graça. Ele abandona a ideia do trabalho como fonte de pecado
original e mesmo como contemplação. Pelo contrário, o trabalho pode
libertar o homem do sofrimento e se tornar agradável a Deus, na medida
em que o homem deve, para estar seguro de seu estado de graça,
‘trabalhar o dia todo em favor do que lhe foi destinado. Não é, pois, o
ócio e o prazer, mas apenas a atividade que serve para aumentar a
glória de Deus (...) É condenável a contemplação passiva, quando
resultar em prejuízo para o trabalho cotidiano, pois ela é menos
agradável a Deus do que a materialização de Sua vontade de trabalho
(WEBER, 1967: 112).
Não trabalhar significa não prestar homenagem a Deus. Somente
razões imperativas como a doença podem impedir alguém de trabalhar,
mas optar por não trabalhar ou não fazer de tudo para encontrar um
trabalho, é moralmente condenável. O ócio, assim como a preguiça, não
são desejados por Deus e “o mais importante é que o trabalho constitui,
antes de mais nada, a própria finalidade da vida” (WEBER, 1967: 113).
Calvino considera ainda que o mal não está no dinheiro em si, mas no
uso que se faz dele. Nessa ótica, o rico tem uma missão econômica
providencial. Ele é “o ministro dos pobres”, os quais lhe dão a
possibilidade de se liberar da servidão do dinheiro, testando sua fé e sua
caridade. Segundo Weber, a doutrina do Calvinismo contribui para o
desenvolvimento do capitalismo e para a importância do trabalho na medida em que, na sua teologia – a doutrina da predestinação –, Deus
decidiu desde o princípio quem, entre os crentes, compartilharia a
salvação e quem seria condenado e não restaria alternativa a não ser
travar uma luta diária para fazer jus à possível escolha de ser um dos
eleitos de Deus.
Essa luta diária faz-se através de um enorme ativismo, alimentado
por recomendações pastorais, afirmava Weber. De um lado, por manter-
se como dever de cada um considerar-se escolhido (...) A exortação é
aqui interpretada como um dever de obter certeza da própria dedicação
e justificação na luta diária pela vida (...). Por outro lado, a fim de
alcançar aquela autoconfiança, uma intensa atividade profissional era
recomendada como o meio mais adequado (WEBER, 1967:77).
A incerteza da salvação pessoal deve ter gerado uma enorme
angústia nos fiéis. Não se podia esperar ajuda alguma, nem de Deus,
nem da Igreja, nem da comunidade religiosa, pois cada um encontrava-
se na mesma situação e, além disso, os membros da comunidade eram
concorrentes aos raros lugares salvadores no céu. Esse sistema fatalista,
de individualização e incertezas, desencadeou “o trabalho encarniçado e
o domínio do mundo” (MÜLLER, 2005: 246). A ideia subjacente é de que
o trabalho é um meio de adquirir a independência e a confiança, e de
fazer parte de ser um dos eleitos de Deus. O sucesso na vida terrestre,
adquirido através do trabalho, não é certamente uma garantia de
salvação, mas um sinal promissor. Esse modo de vida levou a uma
conduta ética racional, uma espécie de ascetismo secular.
Essa ideia puritana do trabalho profissional teve efeitos sobre a vida
econômica em geral e sobre o modo de vida capitalista em particular. O
puritanismo considera, ao contrário da leitura teológica anterior, a
riqueza como desejável e apreciável. Então, o rico é abençoado e está no
caminho da salvação; ao contrário, o pobre não tem reconhecimento
social, despojado de prestígio em sua vida ociosa. A intuição de Weber é
de que a ética protestante deu conteúdo a um espírito do capitalismo,
tendo no trabalho um dos principais elementos: a avaliação religiosa do
infatigável, constante e sistemático labor vocacional [trabalho
profissional], como o mais alto instrumento de ascese, e, ao mesmo
tempo, como o mais seguro meio de preservação de redenção da fé e do
homem, deve ter sido presumivelmente a mais poderosa alavanca da
expressão dessa concepção de vida, que aqui apontamos como espírito
do capitalismo (WEBER, 1967: 123).
A visão protestante, para além de uma valorização religiosa do
trabalho, contribui para criar um “espírito” motivacional para o
empreendedorismo. A contribuição de Weber é mostrar que o capitalismo ensejado pela Revolução Industrial tinha, em sua base, uma concepção
de trabalho vinculada ao ascetismo secular do protestantismo. Foi essa
concepção de trabalho, que liberou moral e eticamente os homens – os
capitalistas – à aquisição de bens, à obtenção do lucro, à cobrança de
juros e à acumulação de capital. Esse ethos – conjunto de valores
culturais – exortava que a acumulação do capital deveria ser reinvestida
em novos empreendimentos que gerassem mais empregos. Esse círculo
virtuoso – trabalhar, acumular e reinvestir – permitia o estabelecimento
da harmonia social. Será esse ethos que fomentará a atividade
capitalista. Observa-se portanto que, da completa desvalorização, o
trabalho assume, ao longo da sociedade religiosa, uma mudança de
sentido até se tornar referência para uma vida virtuosa. Num primeiro
momento, na Idade Média, o trabalho é interpretado como castigo –
subjaz a essa representação do trabalho uma subjetividade da
insignificância da condição humana. O trabalho não é fonte de afirmação
pessoal, coletiva ou mesmo espiritual, não compraz e não é valorizado. É
visto como necessidade, uma penitência a ser realizada que se coloca
em contiguidade à necessidade de sobrevivência. Efêmera, a vida é feita
de trabalho penoso e árduo, infeliz e desafortunado. Mesmo aquele que
não trabalha interpreta o trabalho dessa forma e considera-se venturoso
porque possibilita a outrem a purgação do pecado original de toda a
humanidade. A subjetividade manifesta é análoga aos que vivem do
trabalho e aos que não vivem. Aqui, diferentemente do paradigma grego,
o trabalho não é menosprezado no sentido de condição vil e execrável,
como eram vistos os escravos, mas como condicionalidade para a
Salvação de todos: aquele que trabalha expia coletivamente a grave
ofensa cometida contra Deus. O que está livre do trabalho penoso –
pode-se pensar no senhor feudal – não olha os que vivem do trabalho
com desprezo, mas como contingência causal a que todos foram
submetidos, e que ele, por sorte e graça de Deus está livre, porém a sua
Salvação depende daqueles que trabalham. A subjetividade manifesta
nessa condição de trabalho é uma subjetividade resignada. Os que
trabalham carregam um sentido de vida, mas é antes de tudo uma
predestinação, não há uma alternativa.
Esse tipo de interpretação, vinculada ao trabalho, transita para
uma outra subjetividade, dessa vez mais afirmativa, que permite um
sentido mais dignificante para a vida de quem trabalha. Esse processo é
lento, dura séculos, e não se faz perceptível cronologicamente. A reviravolta acontece com a passagem da interpretação do trabalho não
mais como condenação, mas como possibilidade de exaltação à obtes,
pode sim ser fonte de riqueza
e quanto mais se amealha mais
reconhecimento traz e mais
agrada a Deus.
O sentido do trabalho para
as pessoas e para a sociedade,
portanto, vai se alterando e
configurando distintas subjetividades. Passa-
se de uma subjetividade
resignada (trabalho-redenção), própria dos
primórdios da sociedade
religiosa do medievo para uma subjetividade
afirmativa
(trabalho-glorificação), até uma subjetividade da emancipação
(trabalho-liberação)
conquistada na ante-sala da ascensão do
liberalismo. Afirma-se aqui a
subjetividade da emancipação, no sentido
de que o trabalho não é mais
fonte de vergonha, mas a chave para a
conquista da felicidade e de
pertença social. Evidentemente que essa
transição dos sentidos do
trabalho é consoante a uma sociedade que se
encontra no umbral da formação
capitalista e serve, assim, de
justificação à ascensão
econômica da burguesia emergente. O sentido do
trabalho sempre é socialmente
construído e serve a algo, não está
isolado ou pendurado acima da
realidade social.
Referências bibliográficas:
WEBER, Max. A ética
protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo:
Pioneira, 1967.
WILLAIME,Jean-Paul. As
reformas e a valorização religiosa do trabalho. In:
MERCURE, D.;
SPURK, J. (Orgs.). O trabalho
na história do pensamento ocidental.
Petrópolis (RJ): Vozes, 2005,
p. 63-87.
SANSON,César. O conceito do
trabalho em Max Weber. Café com
sociologia.com
Por: Emanuel Isaque Cordeiro
da Silva
Belo Jardim – IFPE –
Campus Belo Jardim,05 de Junho de 2017
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